Em 2010, o governo da China criou um experimento inovador em Shenzhen, metrópole com 13 milhões de habitantes localizada ao sul do país.
Juntamente com outras 11 regiões do país, a cidade passaria a incentivar a instalação e difusão de tecnologias com baixa emissão de gás carbônico, principal gás do efeito estufa.
Essa inovação, decretou o governo de Pequim, deveria se espalhar para os mais diversos setores, incluindo indústria, transportes, produção de energia, construção civil e consumo.
Esses projetos deveriam ainda estimular novas formas de urbanização, agora centradas em soluções amigáveis à natureza.
Deu certo.
Ao longo da década, à medida que a China mudou seu eixo de crescimento – da expansão a qualquer custo para um modelo centrado na sustentabilidade, na inclusão social e na eficiência – Shenzhen vem sendo encarada por especialistas em desenvolvimento econômico de todo o planeta como exemplo a ser seguido de perto.
O processo também se disseminou para outros cantos da China, incluindo Hangzhou, Zhoushan, Zhuhai, Ningbo, Guangzhou e Weihai, todas elas hoje sinônimos de tecnologias verdes.
Os resultados são visíveis. Ao abraçar a inovação, o PIB de Shenzhen cresceu 8% ao ano em média ao longo da década, ao mesmo tempo em que a cidade derrubou emissões.
Não por acaso, Shenzhen é sede da BYD, que em janeiro chegou a ultrapassar a Tesla como líder mundial na fabricação de veículos elétricos e deve desembarcar no Brasil em breve.
Um dos projetos mais conhecidos de Shenzhen é a regeneração do rio Dasha, localizado no distrito de Nanshan, no sul da cidade.
Antes alvo de despejo maciço de esgoto, o curso dágua é hoje cercado por um corredor florestal com 13 quilômetros de extensão. Esse parque natural e gratuito recebe todos dias centenas de corredores, ciclistas e remadores.
“A escolha das plantas foi feita com muito cuidado, para reproduzir a vegetação nativa da região”, diz Stone Shen, da AECOM China, responsável pelo projeto.
“A vegetação ao longo do rio Dasha é capaz de filtrar poluentes das águas pluviais e residuais da cidade. Isso protege o habitat da vida selvagem” conclui.
Desde 2016, Shenzhen construiu 6.400 quilômetros de redes de esgoto usando tecnologia de desvio de águas pluviais. E em 2019, se tornou a primeira cidade da China a restaurar todos os seus cursos de água.
Outra mudança considerável é o ar que seus habitantes respiram. E isso também está relacionado à mudança do eixo econômico da metrópole.
Entre 2004 e 2014, o governo de Shenzhen substituiu fábricas que descumpriam normas ambientais e jogavam fuligem na atmosfera por empresas socialmente corretas, que tinham como base a inovação e o uso de tecnológias sustentáveis.
Como resultado, há dez anos consecutivos Shenzhen ocupa a dianteira entre as cidades chinesas com melhor qualidade do ar.
“A qualidade do ar de Shenzhen foi classificada como excelente ou boa em 99% dos dias”, afirma Ma Jun, especialista em desenvolvimento sustentável.
Mas o grande experimento urbanístico chinês hoje se expande para todo o território.
Hoje, o governo chinês exige que 50% dos novos edifícios sejam certificados como sustentáveis.
O chamado Plano de Ação para Construção Verde também determina ainda que os edifícios públicos, como escolas e hospitais, cumpram os padrões de construção sustentável do sistema de classificação de três estrelas do país, o Selo de Avaliação de Edifícios Verdes.
Este sistema leva em consideração seis categorias, incluindo terreno, energia, água, eficiência de recursos, qualidade do ambiente interno e gestão operacional.
O sistema de Liderança em Energia e Design Ambiental (LEED), dos Estados Unidos, também tem uma forte presença na China.
Em 2015, os edifícios de escritórios de grau A com certificação LEED em 10 das principais cidades da China representavam um terço do mercado total.
A China também realiza experimentos urbanísticos arrojados.
Em Shijiazhuang, um distrito industrial ao norte de Shenzhen, vem sendo erguido um bairro planejado batizado de “Cidade Florestal”.
Trata-se de uma série de edifícios cobertos por plantas e árvores, que ao longo do tempo devem neutralizar as emissões de carbono produzidas por 100.000 moradores do entorno.
A Cidade Florestal de Shijiazhuang é o projeto mais ambicioso desse tipo em andamento na China, mas não é o único.
Liuzhou, na região de Guangxi, no sul do país, será sede de outra “Cidade Florestal”, com capacidade para abrigar 30.000 moradores e dispor de uma cobertura vegetal composta por 40.000 árvores.
Em Nanjing, a cerca de uma hora de Xangai, dois edifícios cobertos por uma floresta vertical também estão em construção.
Espera-se que os dois prédios capturem 25 toneladas de dióxido de carbono do ar todos os anos e produzam cerca de 60 quilos de oxigênio puro diariamente.