A investigação da Polícia Federal sobre o barco encontrado no litoral do Pará com nove pessoas mortas aponta uma organização criminosa responsável pela migração ilegal.
“Encontramos 25 capas de chuva no barco e 23 idênticas, isso evidencia a organização que existe por trás disso, com certeza. Para colocar um barco, mesmo que precário, com custo alto, existe uma organização”, disse à CNN nesta quarta-feira (17) José Roberto Peres, superintendente da PF no Pará.
Segundo o delegado, “alguém ali organizou, colocou esse barco no mar e com certeza vendeu algumas vagas para as pessoas vulneráveis que pretendiam buscar uma vida melhor”.
As investigações revelam que existem rotas mundiais de migração em barcos e algumas delas passam pelo Brasil. No caso dessa embarcação, ela iria de Mauritânia, na África, para as Ilhas Canárias, mas ficou à deriva e acabou arrastada no mar até chegar à costa brasileira. O arquipélago espanhol é usado como rota migratória para entrada no continente europeu.
“É um assunto muito importante e preocupante. E a PF abraça essas situações há muitos anos, e tem feito trabalho de desarticulação de organizações criminosas que se aproveitam dessas pessoas que estão vulneráveis e procurando uma vida melhor”, reforça o delegado.
A PF detalha, também, que existe um fluxo muito intenso de migração da costa africana para as ilhas canárias. “Nos últimos quatro anos aportaram nas ilhas mais de 20 mil pessoas, por ano. Em 2021, foram localizados 7 barcos na América com identificação muito semelhante a esse barco que encontramos agora. Desses 7, seis foram encontrados no Caribe e um na costa brasileira, no Ceará, com três corpos. A investigação apontou que esse barco partiu da Mauritânia”, relembra o superintendente da PF.
Sobre o barco encontrado no Pará no sábado (13), um dos corpos seria de Mauritânia e outro de Mali, com base nos documentos encontrados com eles. As investigações continuam, no entanto, para afirmar a nacionalidade das demais pessoas.
O trabalho dos peritos da PF começou e eles analisarão DNA e arcada dentária para chegar à identidade de cada uma das vítimas. A PF também vai checar com a Interpol dados de desaparecidos nos países para confronto de informações.