O ataque do Irã contra Israel na noite de sábado, 13, aumentou ainda mais o conflito no Oriente Médio e deixou o mundo em alerta sobre o que pode acontecer a seguir. O governo israelense discute como agir, e a comunidade internacional tenta evitar novas retaliações para a situação não agravar. O Irã afirmou que a ofensiva foi bem-sucedida e motivada em resposta ao ataque israelense na embaixada iraniana em Damasco, na Síria, em 1.º de abril.
O gabinete de guerra de Israel se reuniu na tarde deste domingo, 14, para discutir possíveis ações, mas não houve um comunicado formal. Uma autoridade israelense confirmou à emissora de TV NBC que vai haver algum tipo de resposta, mas não se sabe ainda qual e por quais meios. “Israel não pode permitir um ataque tão grande sobre Israel sem algum tipo de resposta, seja ela pequena ou grande”, disse.
O ataque do Irã foi feito com o lançamento de mais de 300 drones e mísseis balísticos, dos quais 99% foram abatidos por sistemas de defesa de Israel e de outros países, como Jordânia, França e Reino Unido, de acordo com os militares israelenses. A única vítima relatada foi uma menina de 10 anos ferida no sul de Israel, e um míssil atingiu uma base aérea israelense, mas causou poucos danos.
O que antecedeu o ataque?
A ação do Irã não foi uma surpresa para as autoridades. Desde que Israel atacou a embaixada iraniana na Síria e matou seis generais da Guarda Revolucionária do Irã, Teerã havia declarado que responderia. Os EUA declararam na sexta-feira que as chances de um ataque iraniano eram altas no fim de semana.
Mas até ser feito, havia dúvidas se o Irã iria transformar o conflito com Israel aberto e direto, como se confirmou, ou se iria responder através de grupos rebeldes que mantém relações, como o Hezbollah, no Líbano, e os Houthis, no Iêmen.
Apesar do ataque não ter causado danos consideráveis no território israelense, ele é significativo por se tratar da primeira vez que o Irã ataca diretamente Israel desde à criação da República Islâmica do Irã em 1979. Segundo especialistas, trata-se de uma situação nova e alarmante.
Qual o risco de escalada?
Segundo o especialista associado do centro de estudos americano Council on Foreign Relations (CFR) Ray Takeyh, o que acontece a partir de agora cabe à Israel e ao Irã, apesar da pressão da comunidade internacional em torno do assunto. “É difícil como eles podem diminuir a escalada. Provavelmente Israel retaliará”, disse.
“A postura de dissuasão (de Israel) exige uma resposta a tal ataque dentro de seu território, mesmo que não haja vítimas. E então o Irã tem de responder”, acrescentou.
Nessa lógica, ambos os países continuariam a se atacar mutuamente, o que expandiria o conflito no Oriente Médio com o risco de atrair outros atores, como os EUA.
Apesar do temor de uma resposta bélica, a resposta de Israel também pode se dar através de outros meios, como ataques cibernéticos ou sanções, acrescentam observadores. O que se sabe, por enquanto, é que a resposta não vai ser imediata.
Qual o risco dos EUA e outros países entrarem no conflito?
Até o momento, Washington afirma não apoiar uma nova ação de Israel contra o Irã. O presidente Joe Biden repudiou a resposta iraniana, mas disse que não faria parte de um possível ataque de Israel.
De acordo com analistas, o Irã também não deseja uma outra escalada. “A bateria de mísseis do 13 de abril foi concebida para equilibrar a projeção de força militar e evitar a retaliação de Israel (e potencialmente dos EUA)”, escreveu o analista Ali Váez do Crisis Group para a revista americana Foreign Affairs nesta segunda-feira, 15.
Vaéz baseia a análise em uma troca de mensagens entre Teerã e Washington e autoridades de países da região, como a Jordânia e Arábia Saudita. “Nas mensagens públicas e diplomáticas sobre os ataques, o Irã enfatizou que estava agindo com uma resposta limitada e proporcional (contra Israel)”, disse.
Segundo a Casa Branca, o Irã informou que atacaria apenas instalações militares. E mesmo após praticamente todos os ataques serem retaliados, o chefe das forças militares iranianas afirmou que as operações haviam terminado.
A comunidade internacional pode evitar que o conflito piore?
Após o envio de mísseis e drones contra Israel, o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu e apelou para Irã e Israel demonstrarem moderação para evitar um conflito em grande escala. Entretanto, o conselho tem sido ineficaz para evitar novos conflitos.
Ray Takeyh, do CFR, acredita que haverá uma “diplomacia de mediação considerável” por parte de grandes aliados dos dois países para evitar mais conflitos. “Os grandes aliados de ambos os países têm um papel a desempenhar”, disse.
A China, uma das maiores aliadas do Irã, emitiu uma declaração de grande preocupação em torno do Oriente Médio. “A China apela às partes relevantes para que mantenham a calma e exerçam moderação para evitar uma nova escalada de tensões”, disse o ministério de Relações Exteriores chinês. Os EUA, maior aliado de Israel, também tem tentado evitar uma ação bélica de Israel contra o Irã, mas disse que defenderia suas tropas em caso de uma guerra aberta.
O colunista do jornal americano The New York Times Thomas Friedman escreveu em seu último texto que um dos meios da comunidade internacional evitar que o conflito escale é através de uma iniciativa de isolar o Irã. “Não apenas para impedi-lo de tentar tal aventura novamente, mas também para dar motivos a Israel para não retaliar militarmente de forma automática”, disse. Mas, na prática, somente os dois países podem evitar o conflito.