BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), assegurou ao governo que suas desavenças com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, não vão interferir na votação da reforma tributária nem de outros temas da agenda econômica. O recado foi dado por Lira numa conversa com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, nesta sexta-feira, 12.
Os dois falaram sobre a crise de relacionamento durante um voo com destino a Salvador (BA). Lira avisou, porém, que vai tratar da pauta de interesse do governo com Costa e com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Nunca com Padilha. Se dependesse dele, o articulador político do Palácio do Planalto – com quem trava um embate desde meados do ano passado por causa do controle de emendas parlamentares – seria demitido.
“A agenda econômica não ficará subordinada a nenhum ruído político”, disse ao Estadão o deputado Elmar Nascimento (BA), líder da bancada do União Brasil. “Além disso, a reforma tributária é assunto de Estado, não de governo. O interesse do Brasil está preservado.”
Pré-candidato à presidência da Câmara, Elmar também estava no voo em que Lira e Costa conversaram. Ao chegar a Salvador para participar da comemoração pela passagem dos 20 anos da Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (Abaf), Lira foi questionado por repórteres sobre o embate com Padilha, mas ficou em silêncio.
Centrão prepara troco ao Planalto
Mesmo com a garantia do presidente da Câmara de que não há motivo para preocupação, aliados do governo temem que o “troco” do Centrão ao Planalto seja dado na análise dos vetos presidenciais. Há uma sessão do Congresso convocada para a próxima quinta-feira, 18.
Deputados e senadores estão dispostos a derrubar o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos R$ 5,6 bilhões aprovados para as emendas de comissão no Orçamento deste ano. O Planalto tenta chegar a uma espécie de acordo de compensação, mas, após o ataque de Lira na direção de Padilha, o governo tem receio de que mais dificuldades apareçam nas negociações, com a cobrança de novas faturas.
“Não vai ocorrer nenhuma pauta-bomba porque, se o Congresso aumentar as despesas, tira os recursos das emendas”, afirmou o deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), que foi relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024.
Presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara, Forte tenta promover um acordo em torno dos projetos de regulamentação da reforma tributária. “Isso é o que temos de mais importante na agenda econômica, pois representa investimento e emprego”, destacou ele.
Na quarta-feira, 17, a comissão vai reunir o secretário extraordinário da reforma tributária, Bernard Appy, o deputado Aguinaldo Ribeiro, relator da proposta, e presidentes de frentes parlamentares, como a da Agropecuária e do Empreendedorismo, para tratar de temas que vão da fiscalização dos novos tributos às regras para bens e serviços com alíquotas reduzidas.
Em conversa com aliados, nos dois últimos dias, Padilha disse ter certeza de que a pauta apresentada pelo governo ao Congresso, tanto em relação à agenda econômica quanto à transição ecológica, não enfrentará percalços.
Lula pediu a Costa, Haddad e ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), que continuem como interlocutores de Lira. A ordem dada a Padilha é para que ele não jogue lenha na fogueira e permaneça calado. Ao fazer um desagravo ao ministro, nesta sexta-feira, 12, Lula disse que o cargo de articulador político do governo vira sempre um “martírio” para quem o ocupa.
Votação para manter Brazão preso foi gota d’água
Na prática, o estopim para o destempero de Lira teve início na quarta-feira, 10, quando ele foi informado de que Padilha atuou para que deputados votassem pela manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ). O parlamentar foi acusado pela Polícia Federal de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco.
Lira argumentava que a prisão não havia sido feita em flagrante, como manda a lei. Deputados do Centrão relataram depois que o presidente da Câmara agia para que o plenário aprovasse a soltura de Brazão.
Muitos criticaram sua estratégia longe dos holofotes, alegando que acabaram expostos num caso de repercussão internacional. Lira atribuiu o “vazamento enviesado” das informações a Padilha e negou ter dado qualquer orientação aos deputados. Pressionado, ele “explodiu” e chamou o ministro de “incompetente”.