A Operação Fim da Linha, que prendeu seis pessoas e cumpriu 52 mandados de busca e apreensão contra investigados por fazerem parte da rede montada pelo PCC no transporte público de São Paulo, teve uma atenção especial do Secretário de Segurança Pública do estado, Guilherme Derrite.
Para a operação, Derrite decidiu escalar as forças especiais da Polícia Militar (PM): Gate, GOE, Canil e Rota. O grupo tem sido chamado nos bastidores da polícia e da política como “Tropa do Derrite”, especialmente depois de movimentações feitas pelo secretário na cúpula das forças de segurança e da PM do estado.
Por outro lado, a Polícia Civil, que costuma fazer esse tipo de operação, dando apoio ao Ministério Público, foi excluída da operação.
Fontes ligadas à ação disseram à CNN que o tema era “ultra sensível” e que a escolha da elite da PM foi cirúrgica, para evitar qualquer tipo de vazamento que pudesse atrapalhar as prisões e as buscas e apreensões programadas pelo Ministério Público.
A CNN descobriu detalhes que até agora não tinham sido revelados sobre os bastidores dessa operação, a maior já feita pelo Ministério Público do estado contra o crime organizado.
As informações foram reveladas por pessoas ligadas à investigação e à operação e estavam sendo até agora mantidas em sigilo pelos envolvidos.
Tudo começou com a alteração de um pacto entre MP e PM, feito em 2006. Foi em meados de 2023 que o acordo foi renovado, fortalecendo a PM como força de apoio para os promotores, especialmente na investigação e operações contra o crime organizado.
Por parte do MP, a atuação foi conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo, o Gaeco. Na PM, as informações foram concentradas no Centro de Inteligência da Polícia Militar, o CIPM.
Foram convocados o Gate, que atua em ocorrência com reféns, o COE, que tem atuação bem sucedida em áreas rurais, o Batalhão de Choque, que age em locais com grande público, como manifestações e brigas de torcida nos arredores de estádios de futebol, o canil da PM e a Rota, que teve atuação marcante na Operação Verão, que deixou 56 mortos na Baixada Santista.
Foram mais de 340 agentes mobilizados para os mais de 50 locais que foram alvo da Operação Fim da Linha.
Os grupos de policiais se dividiam de 4 a 8 agentes, a depender do local direcionado. Foram convocados mais policiais para um endereço que tinha quatro salas comerciais ou outro que tinha cinco apartamentos, por exemplo.
As unidades convocadas têm o tratamento mais especializado e acesso aos melhores equipamentos à disposição da Polícia Militar. Drones fizeram o sobrevoo e o mapeamento dos locais dias antes da chegada dos policiais para comparar imagens de satélites e mapas com a realidade local.
A estratégia foi usada, por exemplo, em uma garagem de ônibus onde a PM queria ter certeza das dimensões.
A “Tropa do Derrite” recebeu uma orientação clara meses atrás, quando a ação desta quarta-feira começou a ser desenhada: manter o menor tráfego de informações possível, para garantir o sigilo da operação.
Policiais militares com mais experiência e, consequentemente, mais antigos na corporação, foram escalados prioritariamente. Um dos pontos que preocupava os envolvidos era o alto risco de hostilidade às forças de segurança durante a operação, o que não aconteceu, já que os trabalhos terminaram sem feridos ou registro de conflitos.
Foram meses de monitoramento dos chefes do PCC envolvidos com o esquema de lavagem de dinheiro envolvendo as duas empresas de ônibus que atendiam cerca de 350 mil pessoas por dia e receberam mais de R$ 800 bilhões só no ano passado.
Com a autorização da Justiça, os sigilos telefônico e telemático dos suspeitos foram quebrados.
Também foram usados softwares estrangeiros adquiridos pela PM e câmeras com reconhecimento facial para descobrir o paradeiro exato dos criminosos investigados.
As fontes ouvidas pela CNN afirmam: a operação foi bem sucedida, mas a investigação ainda vai continuar por muito tempo porque há novos desdobramentos previstos para serem explorados.