Uma reunião do gabinete de guerra israelense que durou horas terminou na noite deste domingo (14) sem uma decisão sobre como Israel responderá ao ataque do Irã, segundo uma autoridade israelense.
O gabinete está determinado a responder – mas ainda não decidiu o momento e o âmbito. O funcionário disse que os militares israelenses foram encarregados de apresentar opções adicionais de resposta.
Separadamente, um alto funcionário do governo Biden informou aos repórteres que um funcionário israelense disse aos Estados Unidos que não pretende intensificar significativamente o confronto com o Irã.
“Penso que Israel nos deixou claro que não pretende uma escalada significativa com o Irã. Não é isso que eles procuram. Eles procuram proteger-se e defender-se”, disse o alto funcionário da administração.
O ministro do gabinete de guerra de Israel, Benny Gantz, disse no domingo que Israel “exigirá um preço do Irã da maneira e no momento que nos convier”.
O gabinete de guerra de Israel iniciou a reunião pouco após os ataques comandados pelo Irã, que atingiram o país durante este fim de semana. Segundo uma fonte da CNN, a reunião começou por volta das 16h pelo horário local (10h no horário de Brasília).
O grupo é composto pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, pelo ministro da Defesa Yoav Gallant e por Benny Gantz, líder do partido União Nacional e ex-ministro da Defesa. O Ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer, e os políticos Gadi Eisenkot e Aryeh Deri fazem parte do gabinete de guerra como observadores.
O Departamento de Segurança Interna dos EUA não identificou quaisquer “ameaças específicas ou credíveis” aos EUA desde o ataque do Irã a Israel e está a trabalhar com parceiros para avaliar o ambiente de ameaça, disse um funcionário dos EUA à CNN.
Um porta-voz da Segurança Interna disse no domingo que a agência federal continua monitorando a situação e instando o público a permanecer vigilante.
Irã e Israel são rivais de longa data e estão envolvidos numa guerra paralela há anos.
O Irã lançou seu ataque sem precedentes em resposta a um suposto ataque israelense ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, em 1º de abril.
Na ocasião, foram mortos ao menos sete funcionários, incluindo Mohammed Reza Zahedi, um comandante do alto escalão da elite da Guarda Revolucionária do Irã, e o comandante sênior Mohammad Hadi Haji Rahimi
O ataque de Teerã teve como alvo a base aérea de Nevatim, disse um oficial do exército iraniano neste domingo (14), alegando que foi deste local que o ataque de Israel ao consulado iraniano foi lançado no início de abril.
Mais de 300 armamentos – incluindo cerca de 170 drones e mais de 120 mísseis balísticos – foram disparados no imenso ataque aéreo.
Destes, “99%” foram interceptados pelos sistemas de defesa aérea de Israel e dos seus aliados, de acordo com os militares israelenses, com apenas um pequeno número chegando ao território israelense.
Israel opera uma série de sistemas para bloquear ataques de tudo, desde mísseis balísticos com trajetórias que os levam acima da atmosfera até mísseis de cruzeiro e foguetes que voam baixo.
O sistema Domo de Ferro de Israel tem sido usado frequentemente desde que o país iniciou a sua ofensiva militar em Gaza em resposta aos ataques do Hamas em Israel, em 7 de outubro.
O Domo é a camada inferior da defesa antimísseis de Israel, de acordo com a Organização de Defesa de Mísseis do país.
Existem pelo menos 10 baterias dele em Israel, cada uma equipada com um radar que detecta foguetes e depois usa um sistema de comando e controle que calcula rapidamente se um projétil que se aproxima representa uma ameaça ou tem probabilidade de atingir uma área despovoada.
Se o foguete representar uma ameaça, o equipamento dispara mísseis do solo para destruí-lo no ar.
O próximo degrau na escada da defesa antimíssil é o David’s Sling, que protege contra ameaças de curto e médio alcance.
O David’s Sling, um projeto conjunto do Rafael Advanced Defense System de Israel e da gigante de defesa dos EUA Raytheon, usa interceptores cinéticos Stunner e SkyCeptor para atingir alvos a até 300 quilômetros de distância, de acordo com o projeto Missile Threat do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS, em inglês).
Acima dele estão os sistemas Arrow 2 e Arrow 3 de Israel, desenvolvidos em conjunto com os Estados Unidos.
O Arrow 2 utiliza ogivas de fragmentação para destruir mísseis balísticos que se aproximam na sua fase terminal – à medida que mergulham em direção aos seus alvos – na alta atmosfera, de acordo com o CSIS.
O equipamento tem um alcance de 90 quilômetros e uma altitude máxima de 51 quilômetros, de acordo com a Missile Defense Advocacy Alliance, que chamou o Arrow 2 de uma atualização das defesas antimísseis Patriot dos EUA que Israel já usou nesta função.
Enquanto isso, o Arrow 3 usa tecnologia hit-to-kill para interceptar mísseis balísticos que se aproximam no espaço, antes que eles reentrem na atmosfera a caminho dos alvos.
No Conselho de Segurança da ONU, o embaixador do Irã, Saeid Iravani, disse que a ação foi de autodefesa.
“A agressão feita no dia 1º de abril nas instalações diplomáticas desobedeceram à Carta da ONU e todas as determinações”, explicou Iravani
“A operação do Irã exerceu o direito de autodefesa, como colocado no artigo 51 da Carta da ONU, e reconhecida internacionalmente pelo direito internacional. Essa ação já concluída foi necessária e proporcional. Ela foi precisa e teve alvo apenas militares e feita de forma cuidadosa para prevenir vítimas entre civis”, prosseguiu.
De acordo com o embaixador, os Estados Unidos, junto da França e do Reino Unido, diziam que não enxergavam o que estava acontecendo e acabaram contribuindo para a situação atual.
De forma hipócrita, esses três países culparam o Irã e eles acabaram ameaçando a segurança na região. Trataram de forma manipulativa, espalharam desinformação no jogo de culpar o outro
Saeid Iravani
Em seu discurso, o embaixador israelense na ONU, Gilad Erdan, afirmou que Israel “tem todo o direito de retaliar o ataque do Irã”.
“O ataque de ontem cruza todas as linhas vermelhas, e Israel tem todo o direito de retaliar. Não somos um sapo numa panela fervendo, somos um país de leões”, disse Erdan.
Na avaliação de Erdan, o Irã age como o regime nazista ao atacar Israel. “Ao invés de gritar ‘sieg heil’ [Viva a vitória, saudação nazista], eles gritam ‘morte a Israel’”.
“Há anos, o mundo vem assistindo à ascensão dos xiitas como foi a ascensão do nazismo. O Irã vem violando às resoluções do Conselho de Segurança e a Carta da ONU há anos. O mundo deve parar as ações criminosas do Irã”, acrescentou o diplomata israelense.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou na abertura da reunião no Conselho de Segurança da ONU que a hora é de“diminuir a temperatura”.
“O Oriente Médio está agora numa situação de extremo perigo que pode levar para um conflito total. Agora é a hora de diminuir a temperatura.É a hora para a conversa”, disse Guterres.
“É hora de recuar do abismo. É vital evitar qualquer ação que possa levar a grandes confrontos militares em múltiplas frentes no Oriente Médio”, acrescentou.
Guterres indicou que a ONU e os países membros têm uma “responsabilidade partilhada” de envolver “todas as partes envolvidas para evitar uma nova escalada”.
Ele também pediu um cessar-fogo no conflito entre Israel e Hamas. “Nem a região, nem o mundo podem permitir-se mais guerra”, comunicou.
Fim da retaliação
O Irã enviou uma mensagem privada aos Estados Unidos dizendo que a sua retaliação contra Israel terminou. A fala vai de encontro ao que Teerã disse publicamente, de acordo com um alto funcionário da administração.
No final do sábado (13), o Irã disse que “o assunto pode ser considerado concluído”.
No entanto, o presidente Ebrahim Raisi declarou que qualquer “nova agressão contra os interesses da nação iraniana terá uma resposta mais pesada e lamentável”.
(Com informações de Jeremy Diamond e Priscilla Alvarez, da CNN; e da Reuters)