Salman Rushdie diz que teve premonição dias antes de ser esfaqueado

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Salman Rushdie diz que teve premonição dias antes de ser esfaqueado

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O renomado autor Salman Rushdie revelou mais detalhes sobre o ataque a faca que o deixou cego de um olho. Em entrevista ao programa “60 Minutes”, da CBS, no domingo (14), ele contou que ele teve uma “premonição” do caso poucos dias antes.

Rushdie foi esfaqueado várias vezes em um palco, pouco antes de dar uma palestra na Instituição Chautauqua, em Nova York, em agosto de 2022.

Durante a primeira entrevista para a televisão desde o ataque, o romancista nascido na Índia disse a Anderson Cooper que tinha “sonhos em que era atacado em um anfiteatro”.

“Eu disse para minha esposa, Eliza, ‘não quero ir’ por causa do sonho. E então pensei: ‘Não seja bobo, é um sonho’”, lembrou ele.

Em outra entrevista, publicada na segunda-feira, Rushdie afirmou à BBC que o seu olho ficou pendurado para fora da órbita após o ataque e que perder a visão “me perturba todos os dias”.

O homem de 76 anos, amplamente considerado um dos autores mais importantes da sua geração, tem recebido ameaças de morte desde a publicação do romance “Os Versos Satânicos”, de 1988.

O livro se baseia em uma história profundamente controversa da antiga tradição islâmica que afirma que Satanás se intrometeu momentaneamente nas revelações divinas ao profeta Maomé, irritando alguns muçulmanos e levando o líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, a emitir um decreto religioso, ou fatwa, para sua morte.

A publicação do livro desencadeou casos violentos: o seu tradutor japonês foi assassinado, enquanto pelo menos 18 pessoas foram mortas em manifestações em Mumbai e Islamabad, segundo a agência Reuters.

“Eu não tinha ideia [que causaria violência]”, pontuou Rushdie ao “60 Minutes”, acrescentando: “Pensei que talvez algumas pessoas religiosas conservadoras não iriam gostar, mas de qualquer maneira não gostam de nada que escrevo, então pensei que não precisam ler”.

Salman Rushdie posa após receber honraria no Castelo de Windsor, Berkshire, no Reino Unido / 23/05/2023 Andrew Matthews/Pool via REUTERS

“[Fui] provavelmente [ingênuo]”, adicionou, lembrando que houve cerca de meia dúzia de atentados graves contra sua vida. “É fácil olhar para trás, mas nada parecido jamais aconteceu com ninguém e, claro, quase todas as pessoas que atacaram o livro o fizeram sem o ter lido.”

Rushdie já escreveu sobre o ataque de 2022 e sua recuperação em um livro de memórias que, segundo ele, inicialmente resistiu a escrever, antes de perceber que “não poderia escrever mais nada”.

O livro de memórias, intitulado “Knife: Meditations After an Attempted Murder”, será publicado nesta terça-feira (16).

Hadi Matar, o homem acusado de esfaquear Rushdie e outra pessoa no palco, se declarou inocente das acusações de tentativa de homicídio em segundo grau e agressão em segundo grau.

O julgamento de Matar foi inicialmente agendado para 8 de janeiro, mas o tribunal atendeu ao pedido de adiamento no início daquele mês, informou o advogado Nathaniel Barone à CNN na época.

Barone afirmou que o próximo livro de memórias de Rushdie não foi a razão para o atraso no julgamento, mas prosseguiu dizendo que “de acordo com a Lei de Processo Penal do Estado de Nova York, a Defesa tem direito a toda e qualquer informação associada à elaboração e publicação do livro”.

No domingo, Rushdie pontuou ao programa “60 Minutes” que, ao ver o agressor correndo em direção ao palco pouco antes do ataque, “parecia que algo vinha de um passado distante e tentava me arrastar de volta no tempo, se você quiser, de volta a um passado distante para me matar”.

O autor vencedor do Prêmio Booker foi esfaqueado 15 vezes em 27 segundos por seu agressor, que só parou quando foi puxado, de acordo com ele.

“Eu estava observando [o sangue] se espalhar e então pensei que provavelmente estava morrendo”, acrescentou Rushdie.

“Era bastante natural. Não era como se eu estivesse apavorado nem nada, nada de coros celestiais, nada de portões de pérolas… Acredito que a morte chega como o fim, não houve nada que tenha acontecido que me fez mudar de ideia sobre isso”. Complementou.

Desde que sobreviveu ao ataque, ele ressaltou que não está “muito diferente”, mas que “deixou uma sombra”.

“Alguns dias está escuro e outros não. Sinto mais a presença da morte”, finalizou.

Fonte: Externa